domingo, 8 de março de 2009

O Inferno em Paraisópolis

Seguem algumas elucidações sobre o que aconteceu e qual o real motivo (ou reais motivos) da tensão na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, que foi INVADIDA pela polícia numa operação chamada de SATURAÇÃO. Bem, o nome da operação é auto-explicativo e ao contrário do que se lê na manchete dos grandes jornais (vândalos da favela, virada social da polícia???), o buraco é muito mais embaixo (ou em cima?)...:

Um Desabafo


Os passarinhos eu não os tenho ouvido
Todos devem estar acuados em algum cantinho verde descoberto neste território
Hoje tem cavalaria, tem cachorro bravo
O som agora é papapapapapapapa
Há um pássaro de aço sobre a minha cabeça
Sobre a favela este som que faz a vigília todo o tempo
Nas entradas, tudo que é camuflado está explícito
Todos uniformizados
Lá o aço também se faz presente em formato de fuzil
Do céu o som
Dos lados, a imagem do uniforme camuflado, o controle
Aqui dentro, uma só pressão
No peito, na garganta, nos olhos
E no estômago
As pessoas passam olhando para o chão, suas caras estampam a tristeza imposta
A rua que é sempre cheia, com as pessoas de roupas coloridas, está quase vazia
Pouco movimento
Não agüento mais esta máquina na minha cabeça
papapapapapapapa
A cidade Paraíso no seu antagonismo máximo
Contradições, desproporções, uma cadeia ao ar livre,
Contradição...
Os contra e os a favor
Uma garota me diz ao telefone
"Desculpa, ontem eu não fui a aula por causa da guerra"
Escuto e não acredito, aquilo parece um raio dentro de mim.

A guerra

É isto olha, escuta... papapapapapapapapa
Ele não para
Vigia este povo, esta gente com a pele escura
Esta gente quase nua, vigia, controla
A guerra,
É só isto
Aqui são 80 mil, e o espaço.... só um pedacinho de chão
assim ....o Paraíso
Paraisópolis
Todas as pessoas vigiadas, todas as lotações verificadas, cada sacolinha que a humilde senhora carrega tem que ser mostrada, as casas invadidas para averiguações
Humilhação
Por cima, pelos lados, controle, opressão
Debaixo está a pressão, vai explodir, vem explodindo,
E assim vem aquela força e os meninos vão
Seus atos são vândalos, mas o seu inconsciente não
Traz dentro de si o arquétipo do cabresto, a humilhação, a miséria de seu povo,
Lamentavelmente o seu grito é assim...visceral, irracional, é na paulada, tijolada,
Foram vândalos, marginais,
Os meninos sem escolas, nem estas de mentirinha que a gente conhece eles tem, destituídos de muitos direitos
A pressão cresce, e é também um sentimento mesclado, camuflado, que a gente não explica bem
Pressão crescente, desta vez de baixo para cima
Explode em pauladas, tijoladas, incêndios, caos
Atos vândalos
A cidade Paraíso está em explosão
Razão?????
É a guerra tia
É a guerra...
papapapapapapapapapa
Diane Padial, moradora da favela de Paraisópolis, coordenadora do Espaço Esportivo e Cultural Bovespa

Infernópolis: o pecado de ser pobre

Tudo começou com o atropelamento e morte de um garoto que teve duplo azar na vida: nasceu pobre e morreu nos primeiros anos de sua frutífera vida. Seguiu-se ao acidente uma manifestação dos moradores por equipamento público, para coibir novas mortes. Nada mais justo e compreensível.
Na manifestação ocorreram quebradeiras provocadas por garotos que não têm muito a perder, mas não contavam com o apoio dos manifestantes e da Associação de Moradores. Quando se vive no limite, relegado a uma mobilidade restrita numa metrópole repleta de possibilidades, sem a presença efetiva de equipamentos públicos de qualidade, assombrado pela violência, pelo desemprego, miséria, álcool e rendimentos risíveis, a fronteira entre o legal e o ilegal é muito tênue. Não se trata simplesmente de "desvio de caráter", ou de vandalismo inconseqüente como parte da imprensa e a própria SSP fez crer. Mas o teatro estava apenas no começo.
Paraisópolis é uma grande mancha urbana de pequenos casebres, alta densidade demográfica e com indicadores sociais perversos: apenas 0,45% dos jovens entre 18 e 24 anos estão no ensino superior. Em 1991 o índice era de 1,19%. Apenas 20% do mesmo grupo social estão no ensino médio (Moema tem percentual de 84%) e a baixa escolaridade colabora no desemprego: 1 em cada 4 adultos está sem trabalho. A renda média entre seus moradores é de R$ 367,00 ao passo que na cidade de São Paulo o valor chega a R$ 1.325,00. A degradação persistente da qualidade de vida destas pessoas desceu em profundidade abissal.
Ao seu redor encontramos situação inversa: cercada de edifícios majestosos, casas de alto padrão, com imensos terrenos gramados e arborizados, seguranças particulares e abastecidos de total infra-estrutura. Seus vizinhos gastam mais dinheiro num ano em manutenção das piscinas do que o Estado em educação para estes deserdados urbanos.
Cito esta contradição explícita na paisagem da geografia local para reforçar a idéia de que o convívio permanente entre os socialmente desiguais é sempre explosivo, apesar da repetitiva ladainha de que o problema reside na personalidade das pessoas, que a delinqüência vem de berço e a violência está no sangue de alguns. Tolos, não percebem que este mesmo discurso embala as políticas de segurança pública há décadas sem solução definitiva.
Também não façamos coro com a tese dos "dois Brasis", pois as relações entre estes dois mundos são próximas. Trabalhar como doméstica nestas residências é uma das principais fontes de empregos para as mulheres de Paraisópolis e o assistencialismo corre solto e evidencia sua incapacidade em apontar saídas: Kaká doou bolas, ONG´s distribuem alimentos e roupas, a BOVESPA montou uma Biblioteca, Colégio de classe alta da redondeza oferece bolsas de estudos, enfim, ações apoiadas em responsabilidade social que não dão conta de suprir a irresponsabilidade social dos governos constituídos.
Quando carros foram atacados, pneus queimados e comércios destruídos, num ato espontâneo de revolta contra uma realidade insuportável, a resposta foi o show da operação policial. Estar rodeada de ricos e, principalmente, muito próximos do Palácio do Governo de São Paulo, habitado e dirigido pelo Sr. José Serra, foi outro baita azar.
Na ótica do governo, era preciso agir e rápido. Primeiro, a desculpa padrão: a culpa é da própria população que protege os traficantes que atacaram a Polícia. Segundo, uma movimentação policial exemplar: desfile de viaturas pela Marginal do Rio Pinheiros mostrando que o governador não tergiversa, age. Terceiro, a grande mídia entra em cena: como sempre criando cenários que levam à conclusão imediata de que a ação se justifica, e mortos e feridos são inevitáveis.
O mais irônico é que ocupar casas sem mandato de segurança virou rotina, matar jovens suspeitos, uma necessidade, e aterrorizar a população local, um aviso. Minha suspeita é que por detrás deste modus operandi, que se diga não é uma exclusividade de São Paulo, existe uma política mal disfarçada de redução das pressões populacionais por emprego e serviços públicos, que acomete principalmente crianças e adolescentes pelo Brasil afora. São grupos de extermínio institucionalizados e que comumente recebem aplausos de telespectadores confortavelmente instalados diante de seus televisores, e crentes de que o melhor foi feito.
Poderia haver o caminho do diálogo, sem dúvida nenhuma, houvesse interesse do Gabinete do Governador. O Cel. Ailton Araújo Brandão, comandante da ação em Paraisópolis, tem, inclusive, folha corrida a este respeito. Ele foi um dos participantes daquela malfadada reunião ocorrida com a cúpula da Polícia Militar de São Paulo e o PCC, em 2006, quando era Comandante da PM na ponta oeste do estado de São Paulo, justamente onde estavam presos os membros da cúpula da organização. Um ano depois recebeu o título de cidadão prudentino, com direito a almoço e placa da honraria pelos serviços prestados.
O Cel. Brandão apontou seu dedo para as novas tecnologias como culpada pelo sumiço de gravações contra a PM pela morte de 104 pessoas nos confrontos com o PCC. O gravador do 190 falhou e o backup automático também falhou.
Mas ele foi condecorado pela Assembléia Legislativa de São Paulo em setembro de 2007 como Comandante do Policiamento da Capital da Polícia Militar do Estado de São Paulo, junto com o governador Serra. Recebeu importante medalha dos paulistanos, embora o povo de Paraisópolis possivelmente nem saiba que ela exista. Talvez por isso a raiva.
A PF também chegou ao referido Cel. através da Operação Santa Tereza. Em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo foi revelado um esquema de distribuição de ingressos para uma festa de peão no interior de São Paulo com artistas consagrados. O "mimo" era a contrapartida pelo oferecimento de segurança pública a um prostíbulo privado que lavava dinheiro do BNDES na capital. Vê-se, portanto, que o crime maior não está em Paraisópolis, mas em outros lugares, e o Cel. sabe quais são.
A ação da polícia é a síntese de uma imbricada teia de interesses que passa pela definição, a priori, de que pobre em favela é culpado antes de mais nada, de que é preciso fazer alguma coisa contra a criminalidade e é na favela que o tráfico manda. Humilhar pessoas, revistando-as, invadindo suas casas, num show travestido de caça aos traficantes, explicita mais do que uma prática condenável, mas um tratamento de choque para um problema social.
A ocupação da favela de Paraisópolis na cidade de São Paulo, neste começo de fevereiro, é emblemática sobre o papel do tucanato diante dos problemas sociais no estado de São Paulo. Para fazer justiça, o Demo Kassab também foi condecorado na Assembléia Legislativa num ambiente agradável e de confraternização.
Pena que, enquanto alguns desfrutam deste conto de fadas com dinheiro público, outros vivem num inferno constante e são condenados ao castigo da morte lenta e silenciosa. Mesmo vivendo na "cidade do paraíso".
Ricardo Alvarez, professor e editor do Blog Controvérsia - blog.controversia.com.br

Comunidade Paraisópolis saturada

O real motivo que levou jovens moradores a apedrejarem comércios e carros na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), no dia 2, ainda não foi divulgado pela imprensa e tampouco pela Secretaria de Segurança Pública do Estado. Um fato levantado pela comunidade parece que não ganhou eco nesses meios: a morte de um homem pela polícia e a ocultação de seu cadáver. A família, muito abalada e com medo, não quer falar sobre o assunto.
De acordo com moradores que preferem manter em sigilo suas identidades, a polícia chegou a Paraisópolis atirando. Tanto Marcos Purcino, identificado como foragido da justiça, e o outro homem não esboçaram reação alguma. “Chegaram atirando, nenhuns dos dois reagiram, o outro rapaz era trabalhador e ainda sumiram com o corpo dele, talvez por verem que ele não devia nada a polícia”, relata um morador.
Um dos líderes comunitários da região, que também não quer ser identificado, indaga, “porque o socorro foi prestado a Purcino, que eles sabiam que era um foragido e o outro rapaz que não tinha nenhum envolvimento com o crime teve seu corpo desaparecido. Não tem entrada em hospital, Instituto Médico legal, nada?”.

A deturpação dos fatos

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que vem alegando vários motivos para a realização da manifestação, dentre eles a morte do foragido, os conflitos a mando de facções criminosas e até a troca de um comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar, parece querer esconder a realidade.
Segundo o sociólogo da Universidade de São Paulo (USP), Tiaraju D’Andrea, isso se dá pela forma como a polícia contextualiza o ocorrido. “A polícia tentou impor a mais óbvia de todas as versões: a de que um ‘criminoso’ havia sido morto em uma ‘troca de tiros’ e que, em decorrência disso, o ‘crime organizado’ havia ordenado o levante. Enfim, a versão clássica utilizada em qualquer contexto”, comenta.
Conforme revela a própria Secretaria de Segurança, dos nove homens detidos no conflito, entre eles três menores, nada foi provado contra os mesmos, principalmente se faziam parte de alguma facção criminosa ou se estavam se manifestando a mando delas.
Nesse sentido, o sociólogo avalia que isso prova que não é um caso de criminosos, até porque em seu raciocínio ele enfatiza, “não sou em especialista em facções ligadas ao tráfico de drogas, mas realmente tenho dúvidas sobre o caráter da ação. Geralmente esses grupos organizados não se expõem tanto quando realizam uma ação, pois não desejam o confronto direto e nem a presença policial”, pontua.
A comissão de líderes comunitários de Paraisópolis acredita que esse desencontro e as variedades de informação podem ser propositais para a não-elucidação do caso e para manter em foco apenas os atos de vandalismo: “A manifestação não pode ser taxada apenas como vandalismo. Ela foi realizada por jovens da comunidade que estão revoltados não só com a opressão da polícia, mas com o preconceito da sociedade em geral”.
Para o sociólogo, o argumento dos líderes da comunidade faz sentido em relação a manifestação e os seus reais motivos, pois “tudo indica que o ocorrido em Paraisópolis tenha sido um levante popular, protagonizado em sua maior parte por jovens, desejosos de exporem sua revolta, mas sem uma demanda reivindicativa clara ou sem saberem os meios de expressarem publicamente essa demanda”, identifica.
O sociólogo ainda afirma que, indiferentemente do ocorrido, já havia uma pré-tensão na região que só precisava de um estopim para acontecer a revolta. “Qualquer que tenha sido o fato ocorrido no domingo [dia 1º], já existia uma tensão latente nessa população. Esta foi canalizada em um fato ocorrido. Sem uma tensão latente, sem um clima de revolta anterior, o fato não teria servido de estopim”, complementa.
Márcio Zonta, jornal Brasil de Fato

Primeira e segunda parte de vídeos gravados há um ano atrás, com distúrbios em Paraisópolis devido a atropelamentos na região, pelo jornalista Joaquim de Carvalho:

http://www.youtube.com/watch?v=c4KGo6BZ-8Y

http://www.youtube.com/watch?v=AieSGWoK9KM

Como a imprensa noticiou a revolta dos moradores de 1 mês atrás:

http://www.youtube.com/watch?v=3P8nXhJnK8Y

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Arte de Enganar! *


Em algum lugar do mundo existe uma escola de artes. O seu ofício é o ensino do engano. O método é composto por 11 etapas. E por incrível que pareça, todos são absolutamente sinceros:

Introdução!

Pra começar, sorria, é necessáro que admita, você está sendo enganado! Quero que pense nisso de verdade e repita em voz alta: Eu estou sendo enganado!
- EU ESTOU SENDO ENGANADO!
- Mais uma vez e mais alto.
- EU ESTOU SENDO ENGANADOO!
- Mais uma vez, gritando raivoso.
- EU ESTOU SENDO ENGANADOOO!
- Mais uma vez, berrando irado.
- EU ESTOU SENDO ENGANADOOOOOO!
- Está baixo, todo este prédio deve ouvir.
- EU ESTOU SENDO ENGANADOOOOOOOOOO!
- Está bom o volume, repita, repita até perder o ar em seus pulmões:
- EU ESTOU SENDO ENGANADO! EU ESTOU SENDO ENGANADO! EU ESTOU SENDO ENGANADO! EU ESTOU SENDO ENGANADO! EU ESTOU SENDO ENGANADO!...

1 - O entendimento!

Esta etapa é de fundamental importância, certamente está um pouco confuso. Tome um copo d'água. Respire fundo. Você já admitiu, mas dezenas de porquês estão pipocando em sua cabeça. Você precisa entender uma coisa, só pode existir o engano se existirem enganados. Vivemos num mundo de mercados consumidores. Enganar é um serviço que irá prestar em benefício de NOSSA sociedade. Mas não temos tempo para objeções. Mesmo fora desta escola você engana. Enganar é uma arte natural e inerente ao ser humano. O nosso único trabalho será torná-lo um enganador melhor.

2 - O convencimento!

Percebemos que embora tenha entendido e admitido, ainda não se sente convencido. Esta é a nossa missão nesta etapa. Precisamos de tua reflexão profunda. Mentalize neste exato momento:
- Todas as vezes em que um vendedor lhe fez levar de sua loja um produto do qual você não queria, não gostava e tampouco existia necessidade de possuí-lo.
[PAUSA]
- Ótimo. Agora quero que faça o mesmo em relação a todas as pessoas que lhe envolveram e fizeram se sentir apaixonado por elas.
[PAUSA]
- É a vez de todos os heróis e ídolos que lhe decepcionaram.
[PAUSA]
- Todos os parceiros que lhe traíram.
[PAUSA]
- Todos os golpes do qual foi vítima.
[PAUSA]
- Todas as notícias que eram falsas.
[PAUSA]
- Os maiores corruptos que conhece.
[PAUSA]
- As pessoas que sofreram com tuas mentiras.
[PAUSA]
- As promessas que você não cumpriu.
[PAUSA]

3 - O silêncio!

Cale-se, não precisamos que você fale e muito menos que pense. Só o faça quando for solicitado. Saiba que os homens mais ricos do mundo são obedientes. Você não precisa ser rico, basta que seja obediente. A ÚNICA COISA QUE PRECISAMOS É DO TEU ESTADO DE ESPÍRITO.

4 - O programa!

Vamos ao que interessa. Serás um grande enganador, até por estar na melhor escola de artes do mundo. Sairás daqui podendo ser ator, vendedor, professor, escritor, jornalista, economista, juiz, diplomata, policial, político, executivo, messias, enfim, exercerás qualquer atividade profissional de um ser humano digno e não sendo capaz de exerce-las, podes dizer que é analista ou comentarista. Não se preocupe. Nós lhe garantimos desde já que não passarás fome e nem dificuldades. Muito além disso, poderás acessar a felicidade. Sim, este serviço, a felicidade, existe. Nós a possuímos.

5 - O essencial!

Preste muita atenção, esta etapa é uma das minhas preferidas. Vai saber o que é essencial para ser um bom enganador: você deve enxergar, compreender, analisar e repetir a todos tudo aquilo que for ÓBVIO. Não tenha a presunção de explicar o inexplicável. Você não sabe falar a linguagem do povo e ninguém quer saber a respeito do que não entende. As pessoas adoram o que é óbvio. Escreva um livro. As pessoas se sentirão reconfortadas em saber o que o escritor está contando. Coloque este livro na seção de livraria denominada AUTO-AJUDA. E o mais importante de tudo, venda-o.

6 - O procedimento!

Enganar é um serviço socialmente justo, tanto os ricos quanto os pobres têm acesso direto e abundante a esta arte. Engano teu achar que vai começar por baixo da pirâmide. Você primeiro deve enganar um rico, o mais rico que encontrarmos em nosso catálogo. Este é o estúpido mais fácil de ser coagido, assaltado e extorquido, sem que se faça esforço físico e mental algum. No final, mesmo que se sinta enganado, o rico vai repetir aos quatro cantos tudo aquilo que você disse, como se tivesse feito um ótimo negócio. Os ricos também são espetaculares disseminadores do engano, mas falta-lhes a inteligência que nós temos. Conforme for evoluindo, vai enganando aos mais pobres. Estou vendo que está surpreso. Já lhe disse, no mundo atual precisamos de mercado consumidor. O mercado consumidor rico já está saturado, a maioria dos ainda não enganados está entre os pobres. Quanto mais consumidores, mais sucesso teremos. Quanto aos pobres ainda não enganados, recomendo uma atenção redobrada. Estes podem ser hostis. Mas use sua hostilidade contra eles próprios. Mantenha a imprensa informada para mostrá-los como bestas e ignorantes e teremos o seu próprio povo os rejeitando. Depois pegue suas próprias músicas e faça com que não tenham sentido algum. Quando estiverem felizes lhes dê sexo como tema, quando tristes, dê amor. O importante é que o conteúdo seja nulo. Esses pobres quando pensam podem até deixarem de ser enganados. Os ricos nos prestam favores gratuitos, sem que ao menos sejam solicitados, quando exercem seu poder e influência para ridicularizar os não enganados, e para dar a estes e aos enganados drogas, armas e espancamentos. A surra que levam os fazem pensar milhares de vezes antes de não se deixarem enganar.

7 - A internet!

A internet é a maior invenção da humanidade. Supera, com sobras, a roda. Consiste num sistema muito simples. Primeiro, o enganado sente com a internet um vínculo existencial. Ela se torna necessária para conversar, viajar pelo mundo, fazer compras, pagar contas, marcar encontros etc. Faz parte da própria vida do enganado, uma quase extensão do seu mundo real. Para todos os processos admitidos e seguros, faz-se necessário um cadastro. O enganado digita todas as suas informações, as vezes mais do que somente uma vez, duas, três, dezenas, centenas, milhares de vezes. Todas essas informações são cruzadas em nossos bancos de dados. Temos seus documentos, endereços, telefones, profissão etc. Nós conhecemos a vida do enganado. Depois conhecemos os seus gostos, os seus hobbies, lhe damos formas de se expressar, de se comunicar etc. Nós conhecemos o pensamento do enganado. O vínculo existencial faz com que todas as informações sejam atualizadas constantemente. A informação não se deprecia. Alguns enganados se acham mais inteligentes que outros, roubam as informações e as fazem rodar para outros enganados, forçando os enganados mais ingênuos a aumentarem as atualizações. Para que tudo isso aconteça, temos o custo com servidores, que criam e armazenam os formulários de dados e pensamentos dos enganados. O benefício que temos faz o custo ser irrisório. Por outro lado, o enganado precisa possuir um computador (ou outro aparelho digital qualquer), um sitema operacional, um provedor de acesso, um antivírus (que os protegem dos enganadores menos ingênuos). Não obstante, se tiver problemas com um desses subprodutos da internet, o enganado é que precisa efetuar a reposição constantemente. Ou seja, os enganados nos dão, como se fossem garçons de si mesmos, seus dados, seus pensamentos, seu dinheiro e ainda utilizamos isso para enganá-los mais ainda.

8 - Tolice!

Não seja tolo. Já lhe disse para ser obediente. Não queremos objeções. Estamos lhe oferecendo o mundo. Não seja ingrato. É preciso que você aceite meu pobre. Ademais, o que se pode fazer? Ou se é enganado mais do que engana, ou o contrário. Lhe damos a satisfação de se sentir poderoso, num mundo desesperado. Não é pouco, veja lá. Bom garoto, vamos enganador, faltam 3 etapas.

9 - O acesso!

No mundo em que vivemos, conduzimos as coisas para que os enganados não possuam nada. Tudo é nosso. Os enganados só ACESSAM. Isso lhes dá a falsa sensação de possuírem um bem material, um serviço, quando na verdade, estão pagando um aluguel temporário. Os aluguéis que recebemos nos dão lucros suficientes para que todos possuíssem algo. Mas vivemos num mundo de enganadores, correto? Ou enganamos, ou somos enganados. Os enganados não são donos de mais nada, nem do ar que respiram e muito menos dos corpos que ocupam. Até os seus espíritos são alugados, em pequenos donativos semanais. Para que tudo isso funcione perfeitamente, sem que se sintam escravizados, lhe damos crédito. Um pouco em forma de recompensa mensal. Um pouco em forma de empréstimos e finaciamentos. Um pouco em forma de puro e simples crédito, um valor gerado que antes era inexistente no sistema. Apelidamos de cheque especial e cartão de crédito. Em todos os casos, na verdade, só o nosso lado está faturando. Criamos mecanismos que nos protegem. Cada vez mais fica difícil falar conosco. Nos bancos isso é notável. As agências funcionam mal e porcamente, pois já existem outros canais para o atendimento e os trabalhadores são retirados delas. As centrais telefônicas, internet e máquinas de auto atendimento funcionam para tirar os enganados das agências. Quando se acessa a máquina, está quebrada. Quando se liga nas centrais telefônicas, a informação é imprecisa. Quando se usa a intenet, não há conexão. Os mecanismos criados geram ao enganado a sensação de impotência. Após muitas tentativas, o enganado começa a ter certeza que a incompetência é dele e não da estrutura que deveria estar disponível. Das empresas de crédito, nem se fale. São como empresas fantasmas chamadas de bandeiras. Nós criamos o acesso e tiramos o suporte. Os enganados, se quiserem, que se salvem.

10 - O resumo!

Vamos revisar a arte de enganar. Você vai oferecer ao mundo o que nós precisamos! E nós precisamos que o maior número possível e imaginável de pessoas seja enganado, constante e infinitamente. Não se deve fazer juízos de valores ético e de conduta, enganar faz parte da humanidade e só vencem os que souberem enganar mais e obedecerem a essa sistemática. A única coisa necessária do enganador é o seu estado de espírito. Nossa escola criou mecanismos e sistemas como a internet e o acesso para suprir suas necessidades extravagantes. Artifícos psicológicos foram inventados para poder persuadir os enganados como a auto-ajuda. Todo o sistema está fechado num processo cíclico e infinito que faz com que os principais jogadores atuais nunca percam.

11 - A conclusão!

Enganador, parabéns por ter concluído o curso. Está na hora de por em prática. Caso tenha aprendido, esses são os seus 11 mandamentos. As 11 etapas têm muito mais a ver com o 11, um número que vêm enganando muita gente nos últimos tempos. Engana-se se arrogantemente pensa que é mais importante do que os enganados. Não enganador. Os enganados são os que mais nos importam. Sem eles, nossas vidas não seriam tão cheias de prazeres. Você é somente uma peça que movemos, como num jogo de xadrez, apenas para que possamos continuar com este jogo. Voce é sobretudo desimportante para nós. E nunca pense o contrário. Enganador, o maior dos pecados que pode cometer é o AUTO-ENGANO. Segue teu rumo. Boa sorte.

* A arte de enganar é nome de um livro sobre engenharia social, de um hacker chamado Kevin Mitnick. No livro, ele conta truques aos seus leitores, para que estes se tornem verdadeiros caras de pau. O texto deste blog é de minha autoria.

Quem Quer Ser um Milionário?

O ator-mirim Azharuddin Mohammed, que interpreta o Salim em Quem quer ser um Milionário?, foi surrado pelo pai em público depois que se recusou a dar entrevistas a uma rede de televisão em Mumbai, na Índia. Segundo o tablóide The Sun, Ismail Mohammed, deu tapas no rosto da criança e a chutou na barriga. As imagens foram registradas pela mídia indiana.

Depois da surra, Azharuddin caiu no choro e disse aos repórteres que estava cansado para dar entrevistas. Na quarta-feira, ele passou quase 24 horas entre o aeroporto de Los Angeles e a viagem para a Índia.

A mãe do garoto chorou diante das câmeras e pediu desculpas pelo marido, que depois disse estar "arrependido". "Eu estava confuso e estressado com o retorno do meu filho e não me controlei. Eu amo ele e estou feliz que ele tenha voltado", declarou.

Devido ao esgotamento da maratona - entre elas o tapete vermelho do Oscar -, Azharuddin não foi à escola nesta sexta-feira. O diretor Danny Boyle e os produtores do filme prometeram acompanhar todas as crianças que participaram de Quem Quer ser um Milionário? até a idade adulta. O cachê foi trocado por serviços de saúde, alimentação e educação.

Do site Terra

Nota deste blogueiro: Coloquei essa notícia apenas para te fazer pensar, isso não tem nada a ver com a Índia ou o filme, a questão é muito mais profunda do que nacionalidade e cinema.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um Samba pra Distrair...


Aos que acompanham este blog, eu desejo um carnaval com muita paz, liberdade, saúde, amor, sexo e samba. Eu gosto do carnaval. É o único feriado que nós brasileiros levamos a sério e respeitamos. E depois, que venha 2009, porque no Brasil, o ano só começa depois do carnaval. Feliz carnaval à todos!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Quem é Lilian Thuram?


Se você é brasileiro e tem mais de 15 anos, o conhece. Thuram participou da final da Copa de 98 (aquela, que segundo a boca pequena, o Brasil vendeu para sediar a copa de 2014 e outras teorias conspiratórias mais mirabolantes ainda). Se você é brasileiro, nem ficou puto porque ele não marcou gols. Perdemos com dois gols de Zidane e um de Petit. Mas se você é brasileiro, deve saber de algumas coisas. Primeiro, que Guadalupe, um minusculo arquipélago do Caribe que é administrado pela França, está em greve geral (talvez não esteja mais, não encontrei informações). E segundo que lá, antes da França, eclodiu uma revolta na década de 60. Você não vai achar isso em lugar algum. Você só vai saber, porque Lilian Thuram falou, o jogador de futebol, da classe de trabalhadores que alguns dizem ter "Q.I" deficitário. Não adianta procurar em livros de história, não adianta por no google. Somente ele falou e me mostrou que Guadalupe é uma terra que deve ser conhecida. Eu acredito nele.
Lilian Thuram tem 37 anos e nasceu em Guadalupe. Parou de jogar no meio do ano passado, por problemas cardíacos e faz parte de um grupo de jogadores que além de jogar bem tem atitude contestadora e combativa, dos quais incluo aqui do Brasil Tostão e Sócrates. Procure conhecê-los. Segue uma entrevista concedida por Lilian Thuram ao Le Monde no início deste mês:

Le Monde: O que a greve geral em Guadalupe lhe inspira?

LT: Acho que o eco que é feito desse movimento, que dura quase duas semanas, não é muito importante. Imagine a mesma situação de crise em uma região totalmente diferente da França: creio que ela atrairia mais atenção. Em relação às reivindicações sobre o "alto custo de vida", elas me parecem tão legítimas quanto são justificadas pelo próprio Estado: quando um funcionário é transferido da metrópole para as Antilhas, na verdade ele recebe um bônus de "alto custo de vida", que aumenta seu salário em 40%.É exatamente a prova de que o Estado tem consciência de que o custo de vida é exorbitante lá. Tenho duas irmãs que vivem e trabalham em Guadalupe: cada vez que elas vêm a Paris, elas voltam para casa com sacolas cheias de xampu, sabonete, fraldas, roupas...Elas não estão em situação de precariedade. Mas todos os guadalupenses fazem isso. É um reflexo diante do alto custo de vida.

Le Monde: Esse movimento não vai além da singularidade antilhana?

LT: Sim, certamente. Ele se inscreve na continuidade da crise que começou nos Estados Unidos e que se estende à Europa e outras regiões do mundo. Trata-se de um movimento conjunto cuja característica é que ele atinge com mais força aqueles que têm menos dinheiro. Pois a pobreza ganha terreno em nossas sociedades há alguns anos. Nosso país não consegue mais satisfazer os direitos básicos: pessoas morrem de frio na França; outras vivem em seus carros, quando têm um emprego; e nunca os "Restos du Coeur" [instituição de caridade francesa] serviram tantas refeições...Será que estamos nos encaminhando para uma sociedade que ainda é capaz de pensar nos mais fracos? Essa é a pergunta que os franceses se fazem hoje, especialmente os guadalupenses. É para se pensar se esse movimento não é uma prévia do que poderia se passar no continente.

Le Monde: O que o senhor quer dizer?

LT: Uma situação comparável àquela que bloqueia a ilha hoje pode perfeitamente acontecer no continente. Guadalupe muitas vezes está à frente da metrópole em matéria de conflitos sociais. Se eu lhe perguntar o que "maio de 67" lhe inspira, você me responderá que eu me enganei de ano, ou que eu não conheço a história da França. Poucas pessoas se lembram dos acontecimentos de maio de 1967 em Guadalupe: três dias de tumultos, reprimidos por tropas de choque, 87 mortos, porque os operários pediam por um aumento salarial. Nas manifestações também havia estudantes: isso não lhe lembra nada? Seria errado minimizar a greve geral que acontece hoje em Guadalupe, ou pensar que ela é feita por uma única organização separatista. Todos os sindicatos estão por trás disso. Exatamente como na França, na quinta-feira 29 de janeiro, quando mais de um milhão de pessoas desfilaram nas ruas...

Le Monde: Essa crise guadalupense não revela uma doença mais profunda no cerne da sociedade antilhana?

LT: Sim. Quando olhamos a situação econômica da ilha, nos damos conta de que a maioria das riquezas está nas mãos dos "békés" (descendentes dos escravagistas), os quais, brancos, representam menos de 1% da população. São eles que hoje possuem a maioria das terras, supermercados, sociedades petroleiras, e que determinam os preços em todos os lugares. Eles detêm 90% da economia guadalupense. Imagine o que sente a população, com 90% de negros e portanto descendente de escravos, que sofre a hegemonia dos filhos daqueles que os chicoteavam há 160 anos! Se acrescentarmos o fato de que os donos das grandes empresas, o prefeito, os grandes dirigentes e governantes da ilha são quase todos brancos, em um território cuja história é profundamente marcada pela escravidão, essa subrepresentação pode criar mal-entendidos e um grande sentimento de injustiça.

Le Monde: O que o senhor defende? A instauração de cotas étnicas?

LT: Não. Não consigo conceber essa ideia de cotas. Para mim é mais importante que seja feito um grande trabalho para mudar o imaginário das pessoas. Peça a 100 pessoas que citem um período da história associado aos negros: a grande maioria vai responder que é o período da escravatura. Nos Estados Unidos, foi criada em 1926 uma Semana dos Negros Americanos, antes de ser transformada, em 1975, no Mês dos Afro-Americanos. Assim, em fevereiro de cada ano a sociedade americana é convidada a redescobrir os negros que conquistaram coisas importantes: Martin Luther King, pensadores, artistas... O imaginário americano sobre a questão negra mudou profundamente graças a essa iniciativa, ao passo que o imaginário europeu ainda está muito ancorado na escravidão. Quantas pessoas conseguem citar o nome de um único pensador negro na França?

Le Monde: O que representa a eleição de Barack Obama nesse contexto?

LT: Pense em que mudança no imaginário coletivo representa a chegada de Obama quando lembramos que nos anos 1960 os negros se sentavam no fundo do ônibus! Os Estados Unidos souberam enfrentar sua história. É verdade que houve uma guerra civil para abolir a escravatura, lutas por reivindicações sociais, mortos... brancos e negros, os americanos aprenderam a viver juntos. Se a França nunca abriu o debate, é porque no fim da escravidão, os negros e os brancos não conviveram geograficamente.

Le Monde: O senhor estaria pronto para se envolver pessoalmente na política?

LT: Por enquanto, não.

Le Monde: Segundo nossas informações, Nicolas Sarkozy lhe pediu, em 2008, para entrar no governo?

LT: Isso mesmo. Encontrei Nicolas Sarkozy e Claude Guéant (secretário geral da presidência), que me propuseram o cargo de ministro da diversidade. Tivemos uma longa conversa. Mas, por razões evidentes, só pude recusar... A política é algo muito nobre que não tolera o mais ou menos. É preciso aprender as coisas. É o que estou fazendo agora, encontrando pessoas de diferentes visões. Um dia, talvez...

Le Monde: O senhor chegou na metrópole há quase 30 anos. A França progrediu ou recuou na questão do racismo?

LT: Algumas coisas melhoraram, é claro, mas ainda há tanto a fazer! Durante as palestras que dou com minha fundação (Educação Contra o Racismo), percebi que a maioria das pessoas - crianças e adultos - ainda acreditam que há diversas raças. Talvez fosse preciso começar do beabá. Se ensinarmos duas coisas bem simples a todas as crianças, uma delas sendo que só existe uma única raça - o Homo sapiens - e a outra que todos nossos ancestrais são os mesmos e vêm da África, tenho certeza de que isso resolveria o problema do racismo.

Meu Amigo Está em Coma!


Meu amigo está em coma! Quando penso nele, vem a frase: "Há pessoas que existem, mas não vivem". É uma referência a outra citação famosa de um irlandês ainda mais famoso. E a frase é importante pra mim, não pela fama, pelo cara que criou, por ela mesma, mas porque meu amigo disse. O real significado só consegui entender nos últimos tempos, porque meu amigo está em coma... Sei que vai se recuperar, cada dia que passa chega a hora de revê-lo.
Lembro que dizia também: "Dormir é o mesmo que morrer, um tempo perdido". O que diria ele se pudesse enxergar sua condição atual? As duas frases se complementam. Do meu antigo ponto de vista, a primeira dizia respeito a fazermos as coisas conforme o sistema nos condiciona e não pelas nossas próprias convicções e essência. E a segunda, algo como a filosofia "Carpe Diem". A primeira era pra pensar e refletir sobre existência, propósitos e sonhos. A segunda sobre apatia, ausência e preguiça. No momento nenhum desses significados que eu dei fazem sentido, porque meu amigo está em coma. Mas não tem nada, logo estaremos juntos novamente.
Ele está assim há quase um ano e o motivo é banal. Imagino o que vamos conversar quando voltar. Ele vai querer saber dos sambas que ouvi, das coisas que fiz, do mundo e do coringão. As coisas estão diferentes e, contraditoriamente, não mudaram. Sobre os sambas que ando ouvindo, são os mesmos que foram inventados a muito tempo atrás e ele já sabe bem. A minha casa e meu emprego já não são os mesmos, nem as pessoas com quem eu vivo e conheço. Mas eu continuo o mesmo. O Barack Hussein OGANA foi eleito, o Brasil e a Itália estão tretando, mas to tão mal informado no assunto quanto todos os especialistas que o julgam e os juristas que o condenam. No fim de ano veio uma crise financeira e por coincidência, assim que a crise bombou a guerra santa piorou. Mas acho que só eu vejo relação nisso.
- Pra variar né, crise e guerra.
- Pois é, e o pior?
- O quê?
- O coringão contratou o Ronaldo fenômeno!
- E o gordo tinha se machucado de novo e falado que ia parar há 1 ano hein?
- E ele vai ganhar mais aqui no timão do que tava ganhando na Europa!
- Como assim?
- Não sei. E hoje quando alguém não tem resposta diz que é a crise financeira. Então é a crise financeira...
- Essa crise é inventada então? Tá bom...
- Em partes. Fato é que alguns amigos nossos passaram esses ultimos meses sem receber salário ou até sem emprego e os especialistas dizem que vai piorar. Você continua não acreditando em nada?
- No ultimo ano, não acreditei e nem desacreditei, você sabe.
- É, pior é que sei.
Mas essa conversa não existe, porque meu amigo está em coma. Fico tranquilo, voltaremos a assistir um jogo do timão.
Nos conhecemos há 7 anos. Temos uma afinidade que me faz sentir que o conheço muito mais do que esse tempo. Antes de entrar em coma, ele dizia que era niilista, ou seja, não acreditava em nada, no mundo, nas pessoas, enfim, sem esperança. Antes de niilista, ele se dizia anarquista. Sempre discutíamos sobre tudo, até que houve um momento em que ele se cansou e desistiu. Veio então um emprego e ele foi se perdendo, até que houve o acidente. Ele tem um potencial enorme, muito conhecimento. O primeiro e único cara que vi com um livro do Fernando Henrique, escrito na época que este era um sociólogo, pra botar inveja em tucano. Escolheu não acreditar em nada. Escolheu fechar os olhos pra tudo. Inclusive, deixou de acreditar no niilismo, se isso for teoricamente possível. Mas ele nunca foi tão feliz quanto no tempo em que não acreditou. Mais feliz do que no tempo em que ele acreditava. Seja em uma fase ou em outra, sinto saudades disso tudo, porque meu amigo está em coma. Logo falaremos novamente.
Enquanto isso vamos seguindo. Ao contrário dele, ainda acredito no mundo. Mas sinto uma sensação estranha. De alguma forma, acho que não estou sendo útil. Falta algo pra ser completo. Tenho vontade de oferecer ao mundo alguma ajuda, mas talvez eu mesmo esteja precisando dela. Quando meu amigo voltar preciso dizer como as coisas estão, mas acho que nem eu mesmo estou sacando o que está acontecendo. Informações desencontradas em todos os zilhões de noticiários possíveis. As idéias embaçadas e bagunçadas como um vidro numa chuva...Pessimismo...Pare, é sério! As coisas estão melhorando e existe esperança. Não devo pensar que tudo está perdido, até porque não tenho nada a perder. Eu já entendo o que realmente siginificam aquelas frases. Eu já entendo o que realmente penso e o que realmente quero!
Meu amigo NÃO está em coma! Ele existe porque trabalha e não vive por causa de uma namorada ciumenta. Mas eu ainda escuto em minha mente algumas de suas frases, que talvez só ganhem significado daqui a algum tempo. Meu amigo não está em coma, mas é como se estivesse. Sinto que além dele, todo o resto da humanidade também está. E que de uns tempos para cá, há pessoas que não estão vivendo e nem sequer dormindo, ou pior, existindo. Ele precisa se recuperar, mas cada dia que passa eu não o vejo e cada dia que passa..., é um dia que se perde.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Juiz É Que Têm a Razão


O juiz de direito, Afif Jorge Simões Neto, do Juizado Especial Cível de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, proferiu a sua decisão em um processo por danos morais em forma de verso. "E fica aqui um pedido/ Lançado nos estertores/ Que a paz volte ao seu trilho/ Na terra do velho Flores," dizia a decisão, proferida na quarta-feira.

Em seu voto, o juiz decidiu que um conselheiro fiscal da 18ª Região Tradicionalista do Estado não era culpado em um processo movido por um patrão do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Presilha do Pago, que afirmava ter sido ofendido durante um pronunciamento feito pelo conselheiro. Segundo o processo, o acusado teria dito que o patrão não prestava conta das verbas públicas recebidas para a realização de eventos.

O voto, em julgamento de segunda instância, livrou o acusado de pagar os R$ 1,5 mil que havia sido estabelecido em primeira instância. O voto em verso foi acompanhado pelos juízes Eduardo Kraemer e Leila Vani Pandolfo Machado.

Leia a decisão do juiz:

"Este é mais um processo
Daqueles de dano moral
O autor se diz ofendido
Na Câmara e no jornal.

Tem até CD nos autos
Que ouvi bem devagar
E não encontrei a calúnia
Nas palavras do Wilmar.

Numa festa sem fronteiras
Teve início a brigantina
Tudo porque não dançou
O Rincão da Carolina.

Já tinha visto falar
Do Grupo da Pitangueira
Dançam chula com a lança
Ou até cobra cruzeira.

Houve ato de repúdio
E o réu falou sem rabisco
Criticando da tribuna
O jeitão do Rui Francisco

Que o autor não presta conta
Nunca disse o demandado
Errou feio o jornalista
Ao inventar o fraseado.

Julgar briga de patrão
É coisa que não me apraza
O que me preocupa, isso sim
São as bombas lá em Gaza.

Ausente a prova do fato
Reformo a sentença guerreada
Rogando aos nobres colegas
Que me acompanhem na estrada

.

Sem culpa no proceder
Não condeno um inocente
Pois todo o mal que se faz
Um dia volta pra gente.

E fica aqui um pedido
Lançado nos estertores
Que a paz volte ao seu trilho
Na terra do velho Flores."

Do site Terra

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sociedade de Consumo

Video muito bom, OBRIGATÓRIO ver !!!




Achei esse video no:
http://sununga.com.br/HDC/index.php?topico=download

sábado, 22 de novembro de 2008

O Bebado É Que Têm a Razão


Quem é daqui sabe que um dia de intenso calor e aquela lua fritando sua cabeça são garantias de que daqui a 5 minutos ou horas, o mundo inteiro em forma de água vai cair sobre seu corpo. Num dia desses cometi a burrice de sair de casa sem guarda-chuva e me escondi debaixo da varanda de uma casa, conhecendo o senhor José. Para não chamá-lo de aquele homem ou sujeito ou indivíduo, prefiro personalizá-lo. Não nos apresentamos, ele surgiu de repente ao meu lado, comentando sobre a imensa ignorância dos motoristas que buzinavam histéricamente na rua em que estávamos, onde o trânsito mais que caótico dava o ar da sua graça, piorado pela chuva.
- Porra esses caras acham que buzinando o carro da frente vai sumir ou eles vão começar a voar e conseguir sair de lá.
Pelos hálito e fisionomia, o Zé tava bêbado. Mas o que disse era verdade.
- E não é!
Foi minha resposta, de um cara desconfiado, do tipo o que esse sujeito tá querendo? Vou concordar com esse bebado...Maior preconceito da minha parte.
- Meu esse povo é ignorante, fica aí buzinando. E os caras ainda querem fazer a reforma ortográfica.
Pensei no que tinha a ver os caras buzinando com a reforma ortográfica, mas achei melhor parar por aí, pois a viagem estava lá em Bagdá e eu ainda em SP. Também me surpreendi com o Zé, que não vamos esquecer estava bêbado, falando de reforma ortográfica. Novamente fui pego pelo próprio preconceito. E nesse meio tempo concordei.
- O cara não sabe o que é um acento e ainda querem mudar as palavras. Pergunta pro cara o que é habilitação, ele não sabe. Habilita o quê? Tem a ver com habilidade?
Comecei a entender por baixo a analogia.
- Ainda falam de meio ambiente. Falam de diminuir a poluição. Com esse monte de carro ce acha que vai diminuir a poluição? Puta hipocrisia. Eles só querem saber de vender. Facilitam tudo, parcelam em várias vezes, 5 anos de garantia, é vender, vender e vender. E ainda vem me dizer de proteger o meio ambiente. Aqui ó meio ambiente (fez uma banana e deu risada). Eu quero saber do que é meu, não dá pra confiar no homem.
Concordei, era uma verdade absoluta. Então passavam alguns carros de luxo. A rua fica na saída do estacionamento da sede daquele que se gaba por ter se tornado o maior banco do hemisfério sul (pra quem não entende de geografia, o hemisfério sul é o qual se encontram o Brasil, países da África, outros miseráveis de outros continentes e no melhor dos mundos a Austrália).
- Ve só o cara dentro desse carro. Tá achando que tá abalando. Mas ele tá na mesma merda que o outro que tá no carro velho do lado dele. Mas acha que é o fodão. Fodão é o chefe dele, o dono do banco. Ele acha que é alguma coisa, esse executivozinho de bosta. Ele tá na merda, enquanto o chefe dele, que não pega trânsito, que volta pra casa de helicóptero, que passa aqui de vez em quando, tá rindo lá em cima do prédio da cara dele. E lá de cima ele tá pensando: eu paguei esse cara, eu dou o dinheiro do carro dele e ele tá se achando aí embaixo no meio de toda essa gente, ele é um bosta.
Mais uma vez o Zé disse uma verdade e nessa hora conquistou o máximo de minha simpatia, foi quando um ônibus pintou no meio do congestionamento.
- Esse sim é o povo que sofre. Tão tudo lá apertado, esprimido, porque esses merdas querem vender os carros. Carro devia abrir passagem pro busão. É foda.
Sai uma mulher do mesmo bar que o Zé supostamente saiu, atendendo o telefone e abafando o barulho externo com a mão. O Zé simulou a conversa telefônica.
- Ai amor. Eu já não vejo a hora de você chegar em casa. To te esperando.
Dei risada.
- Enquanto o corno trabalha a outra está aí no meio de um monte de macho.
Fez mais um comentário que eu prefiro omitir. Continuou:
- Puta hipocrisia. Não dá pra confiar no homem. Mas quem não presta sou eu. Eu é que to errado. Deixa eu te dizer uma coisa, eu já morri duas vezes. Na primeira eu fui pro céu e São Pedro disse: AQUI NÃO! Na segunda eu fui pro inferno e o diabo disse: DEUS ME LIVRE!! Eu é que não presto e ainda vem me dizer de reforma ortográfica e meio ambiente. Vai se foder porra! É por isso que eu bebo e ando a pé, fizeram a lei seca né!
Eu falei:
- Daqui a pouco vão prender até os bêbados que estão a pé.
E ele concluiu:
- Porra, daí fodeu. Aí eu fico nervoso de verdade. Podem mexer com a reforma ortográfica, com o meio ambiente, mas não venha se meter com a minha pinga. Com minha pinga ninguém se mete!
O Zé é um gênio. A chuva foi baixando e eu fui me despedindo. Desejei boa sorte e agradeci pela conversa (que foi mais um monólogo, melhor e mais divertido do que os que se vê nos teatros com atores globais).
Numa tarde chuvosa de São Paulo pode se aprender de tudo. E eu aprendi que o bebado é que têm a razão.

P.S.: Eu não vejo uma propaganda de carros sem me esquecer do que disse o Zé.